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quarta-feira, 3 de agosto de 2016


Atualidades - Entenda o motivo da queda do preço do petróleo


Fábio Sasaki

(imagem: iStock)
(imagem: iStock)
Na semana passada, o preço do barril de petróleo ficou abaixo dos 28 dólares pela primeira vez desde 2003. Trata-se de uma tendência que vem sendo verificada já há alguns meses – desde maio de 2015 o preço do petróleo recuou quase 40 dólares.
Mas por que o petróleo está tão barato?
Como qualquer produto, o valor do petróleo no mercado mundial é determinado por uma regra básica da economia: a lei da oferta e da demanda. Se há muita procura e pouca oferta, o preço sobe. Por outro lado, se há muito petróleo disponível para compradores de menos, a tendência é o valor cair. É o que está acontecendo agora.
Se analisarmos o lado da oferta, podemos dizer que há dois principais motivos para a produção de petróleo ter disparado:
Descoberta de novas jazidas e aprimoramento da tecnologia:

Nos últimos anos, com os preços do petróleo em alta, diversos países abriram novas frentes de exploração do produto. Projetos de extração no Ártico, na costa africana e no pré-sal brasileiro são alguns dos exemplos mais evidentes. Com isso, o mercado passou a contar com novos fornecedores, aumentando a oferta.

Além disso, os Estados Unidos (EUA) investiram pesadamente na exploração do querogênio, um tipo de petróleo extraído das rochas de folhelho – um mineral informalmente chamado de xisto. O desenvolvimento de um novo processo tecnológico de fratura dessas rochas permitiu a produção em larga escala, o que elevou a produção diária norte-americana de óleo em 74% de 2008 para 2014. Ou seja, temos ainda mais petróleo disponível no mercado.
A OPEP mantém a produção elevada

No mercado internacional de petróleo, existe uma organização capaz de controlar a produção, aumentando ou diminuindo a oferta de petróleo para poder interferir diretamente no preço. Trata-se da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), entidade que reúne alguns dos principais produtores do setor, como Irã, Iraque, Líbia e Arábia Saudita.

No entanto, desde que a queda dos preços se acentuou, a OPEP não adotou qualquer medida para reduzir a produção. A resistência em desacelerar a produção está ligada a uma estratégia de longo prazo da Arábia Saudita, o mais influente membro da OPEP. Primeiramente, o petróleo barato desestimula investimentos em novas tecnologias para extração do óleo. Isso porque, com o petróleo a valores baixos, o retorno pela venda do produto deixa de ser atrativo. Isso pode impactar a produção de xisto nos EUA e até o pré-sal brasileiro. Com isso, a Opep tenta expulsar potenciais concorrentes do mercado e evitar que haja um excesso de oferta em algumas décadas. Neste cenário, a organização conseguiria manter sua influência sobre o comércio mundial de petróleo.
Além disso, há fortes questões geopolíticas envolvidas nesta estratégia. Os sauditas e seus aliados do Golfo Pérsico sabem que o barateamento do petróleo prejudica alguns rivais que têm economias mais vulneráveis e dependentes da exportação de petróleo. É o caso de Irã e Rússia, que estão com as receitas comprometidas devido ao baixo valor pago pela commoditie. Como a Arábia Saudita possui reservas internacionais da ordem de 900 bilhões de dólares e tem um custo baixo de produção de petróleo, o país é capaz de absorver a queda nas receitas sem comprometer de forma drástica sua economia.
Já do lado da demanda, temos o seguinte cenário:
Os EUA estão importando menos petróleo

Com a extração doméstica em alta, os EUA ultrapassaram a Arábia Saudita e se tornaram o maior produtor de petróleo do mundo. Estimativas apontam que os norte-americanos podem se tornar autossuficientes nesta fonte de energia nos próximos anos – ou seja, todo o petróleo consumido no país seria produzido localmente. O fato de os EUA dependerem cada vez menos da importação de petróleo para atender às suas necessidades energéticas, impacta diretamente o mercado mundial, retraindo a demanda.

Potências ainda não se recuperaram da crise

A atividade econômica global ainda não se recuperou totalmente da grave crise de 2008, o que reduziu a demanda mundial por petróleo. O principal exemplo é a Europa, cuja atividade econômica vem crescendo em ritmo mais lento – isso para não falar que a crise ainda persiste fortemente em nações mais periféricas como a Grécia.

A China é outra importante nação que vem desacelerando sua atividade econômica. O país já não cresce a altas taxas como antes e, como se trata do maior consumidor de petróleo do mundo, este fator tem um forte impacto na demanda do produto. Além disso, o país vem fazendo fortes investimentos para elevar a utilização de fontes renováveis de energia, em substituição ao petróleo.
Ou seja, com a elevação da produção mundial e o consumo em desaceleração, está sobrando petróleo – cerca de 2 milhões de barris diários, quase a produção diária atual brasileira, não encontram compradores. E segundo a maioria dos especialistas, esta tendência não deve se alterar no curto prazo.

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